sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sábado à noite e o sofá da minha casa



Ele estava lá, deitado no sofá com as pernas jogadas, o cabelo criteriosamente bagunçado e olhar perdido em algum programa da televisão. Cheguei mais perto e pedi um espaço pra deitar junto dele. Meu pijama do bob esponja o fez sorrir, ele disse que eu nunca cresço. Agora me diz, isso é bom ou ruim? Ele disse que é bom, disse eu sou a menina dele. Gosto quando ele diz isso. O abraço quentinho dele ali no meu sofá me fez adormecer mas ele logo me acordou, pediu café. Não gosto de café e ele sabe onde é a cozinha, então não preciso levantar né? Não fui fazer. Eu fiquei o avistando dali. O meu menino estava na minha cozinha, na minha casa. Ele parecia contrariado e aquela carinha me fez o amar ainda mais. A camisa surrada da banda que ele mais gosta, a falta de jeito pra fazer um simples café, o bocejar de preguiça e não de sono, os olhos que vez ou outra vinham em minha direção, o sorriso disfarçado ao perceber que eu o admirava, tudo. Tudo nele é absolutamente encantador, é avassaladoramente cativante. 

Sentou-se ao meu lado, na mão tinha a xícara de café quente, forte e sem açúcar, como ele gosta. Ali eu pude perceber mais uns trinta motivos para amá-lo. Vai desde o modo como segura a xícara, o modo como bebe aos poucos e lambe os lábios à cada gole, o modo como mexe no cabelo enquanto olha pro café, o modo como me olha e esboça um sorriso entre um gole e outro, o modo como segura minha nuca e se aproxima pra beijar minha testa. Essa é a imagem dele que eu mais gosto, e eu a relembro toda vez que sento sozinha nesse sofá. Ele terminou o café, deitou-se no meu colo e ficamos aconchegados ali, assim. Na tv passavam algumas bobagens e a gente assistia se perguntando o porquê de estarmos assistindo. Desliguei a tv e ele me olhou com uma carinha de 'para de ser chata, amor' e eu fiz uma careta de 'tô nem aí pra você'. Ele sorriu. A gargalhada mais gostosa do mundo, um som que fez eco no meu corpo inteiro. Ele contou umas vinte piadas, todas ridiculamente sem graça e eu gargalhei em todas elas. Fomos falando mil coisas, a gente conversa como dois bons amigos e nos beijamos como quem acabou de descobrir o beijo.

O jeito que ele me segura pela cintura quando quer me beijar já sei de cor. Então sorrio por ser a garota dele. Nossas bocas se encaixam perfeitamente e daqui a pouco os sorrisos nascem entre um beijo e outro, entre um sussurro e outro, entre um suspiro e outro. Meu garoto. Me dói pensar que algum dia ele pode perceber que tem mulheres melhores depois do portão da minha casa. Me faz ter medo imaginar o meu garoto indo embora, o meu sofá perdendo o nosso formato, a minha cozinha deixando de ter o cheiro do café que ele faz. Porque ele me faz querer viver pra sempre num sábado à noite e a gente tem até trilha sonora. Eu tenho vontade de pedir que ele nunca mais vá embora. Fica, meu bem. Fica aqui por mais infinitos amanheceres. Alguns raios de sol entram pelas brechas da janela e iluminam levemente o rosto dele. E eu não canso de olhar. Me sinto agraciada por poder presenciar aquilo. Recosto a cabeça no peito dele e ouço as batidas do coração. Depois da gargalhada, aquele é o melhor som que eu poderia desejar ouvir. Adormeço ali junto dele. Bem que podia ser sábado de novo.