sábado, 19 de novembro de 2016

Bilhete



Já são 02:27 e eu tô aqui tentando escrever sobre não querer escrever sobre você. Eu te disse sim quando bateu à minha porta e agora morro de medo de que você realmente adentre a minha casa e espalhe algumas roupas pelo quarto, teu cheiro pelos móveis, tua risada em cada canto. É que, sabe, antes de você essa casa era cheia de outro alguém e confesso que ainda tô jogando algumas coisas fora, ainda tô limpando a mancha da taça de vinho que eu joguei contra a parede enquanto gritava ao vê-lo cruzar a porta levando tudo. Então veio você, enquanto eu tava distraída voltando pra essa casa vazia num feriado sem graça. E o tom da tua voz me fez relaxar e acreditar que coisas boas acontecem quando a gente não para depois da queda. Mas, pequeno, olha pra mim, eu tô cheia de arranhões e cortes em fase de cicatrização. É por isso que não te deixo entrar. Às vezes eu te olho e sinto que só quero estar ali. Outras vezes eu te olho e não consigo me encaixar, vou embora antes mesmo de dizer oi. Minha casa, mesmo vazia, ainda tá muito cheia com o vazio que ficou. Espero que você entenda.


Vem me ver hoje? Vou te esperar no portão. 
Eu sou louca e você parece gostar.