sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tábua de salvação.


Enquanto você se aproximava, quebrando os meus muros e rompendo minha defesas, eu me perguntava se era seguro permitir que você assim o fizesse. Minha mente falava sobre loucura, mas meu coração se perdia dentro do teu abraço, se grudava na doçura dos teus olhos. Você, feito pássaro, pousou nas minhas mãos. E eu não te coloquei numa gaiola, te queria livre, mas te queria meu. Te cuidei. Passei a te esperar no fim do dia, a abrir os braços e sentir teu corpo se juntar ao meu num abraço quentinho e demorado, a olhar dentro dos teus olhos e ver toda a poesia que eu havia sonhado. Estávamos a beira daquele precipício que as pessoas teimam em chamar de amor. E a vontade de pular era incontrolável. 

Você era o cara mais incrível do mundo, parecia um desses poemas que a gente lê e fica sonhando. Mas enquanto eu fazia planos, enfeitava nossa realidade, plantava rosas brancas e alecrim no canteiro, você espalhava cacos de vidro pela casa. Você não sabe que isso poderia me ferir? Essa era a sua intenção? Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, você estava cruzando a porta sem olhar pra trás, saindo da minha vida sem pensar duas vezes. Você, feito pássaro, tratou de voar pra longe. Ei, você não esqueceu nada? Ei amor, tem eu aqui. Me leva. Ainda sou a sua menina, a sua linda, ainda sou tão sua. O barulho da cidade agitada abafava meu grito. Na mesinha de centro tinha o copo de vinho que você não terminou de tomar, peguei e o atirei contra a parede. O vinho escorria na parede alva e eu sangrava ao ver a casa vazia.

Não havia mais nada ali além dos pedacinhos de mim que estavam espalhados por todos os cômodos. Rasguei as suas fotos, queimei as roupas que você esqueceu no armário, sufoquei as lembranças. Ou pelo menos tentei. Meus olhos já estavam num vermelho constante, meus soluços evidenciavam meu choro cansado, minha voz embargada, noites mal dormidas tentando enumerar motivos para odiar você. Embora eu já devesse estar te odiando desde aquela tarde, aquela porcaria de tarde. Me tranquei naquela dor. Fui me afogando nas lágrimas, me desmanchando de saudade, morrendo de ausência tua. Me olhei no espelho e vi meus olhos vazios, minha boca feito terra seca. O que você fez comigo? Eu pensei que você me salvaria. Mas olha só, o fôlego está me faltando, tem uma ferida latejando no meu peito e tudo isso é culpa sua. Você é um mar aberto, e eu nunca soube nadar. Suspiro. E me afogo.

Alguém me puxou pela mão e me trouxe de volta a superfície. Estou respirando outra vez.